A água é um patrimônio da terra que, apesar de abundante em termos de volume total, começa a faltar em grandes aglomerados urbanos. Dois terços da superfície da terra são cobertos por água mas estima-se que somente 0,36% é considerada própria para o uso humano. Dentro de uma visão que não chega a ser alarmista mas sim preventiva, devemos começar a fazer o que chamamos de gestão eficiente das águas urbanas. Este princípio envolve a economia através da utilização de equipamentos de baixo consumo, envolve o reuso das águas servidas, a preservação dos mananciais e o aproveitamento das águas da chuva.
A água da chuva, considerada como uma necessidade vital no meio rural, se tornou, nas últimas décadas, um grave problema urbano devido às enchentes. A falta de permeabilidade do solo urbano, aliada ao sub-dimensionamento dos ramais pluviais e ao assoreamento dos rios lindeiros faz com que as águas de grandes chuvas não consigam escoamento adequado, gerando enchentes que, muitas vezes, chegam a ser catastróficas.
Em face disto, cidades como São Paulo, Rio de janeiro, Guarulhos e Curitiba já aprovaram leis que obrigam os edifícios a possuírem sistemas de captação e armazenagem da chuva. Com estes reservatórios executados é claro que a ação mais lógica é prover meios de se aproveitar esta água no próprio edifício.
Ao nível das residências, as águas pluviais podem ser utilizadas como fonte de água não potável bastando para tanto que se criem as condições de infra-estrutura necessária para o perfeito funcionamento do sistema. Considera-se a água não potável aquela que não entrará em contato com o ser humano, seja por ingestão ou pelo contato físico. Assim, o uso não potável abrange a água para o vaso sanitário, lavanderia, lavagens em geral e irrigação.
Para se conceber um sistema de aproveitamento de água da chuva nas residências é necessário que se tenha um sistema de calhas no telhado para fazer a captação. Após captada, a água da chuva é direcionada para uma cisterna passando antes por um filtro especial. Depois de ser armazenada, esta água é bombeada para uma caixa d’água própria localizada no telhado, ao lado da caixa de água potável, sendo então distribuída para os usos previstos. Todos os equipamentos que compõem o sistema já são fabricados no Brasil e podem ser encontrados facilmente em representantes por todas as capitais.
Em se tratando de investimentos, a água da chuva pode vir a ser um excelente negócio. Estudos práticos em sistemas já instalados provam que se pode obter um payback (retorno do investimento) que começa com dois anos, chegando a seis anos. Algumas variáveis são responsáveis por esta diferença de tempo e estão, na maior parte das vezes, ligadas ao potencial climático e ao calendário de chuvas da região. O preço da água cobrado pelo concessionário de água e esgoto, bem como a necessidade de armazenamento são outros fatores cruciais no cálculo do payback.
Mais do que um grande negócio, o aproveitamento da água da chuva passa a ser uma resposta da sociedade a um problema que começa a se tornar crônico na maioria dos centros urbanos.
Arquiteto Mário Hermes Stanziona Viggiano
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